Jessé Souza

De baixo para cima tambem 4651

De baixo para cima tambémUm áudio divulgado nos grupos de WhatsApp exprime muito bem o que muitas pessoas pensam sobre aquilo o que é publico. Na gravação, um cantor sertanejo pede uma mansão de R$ 6 milhões da prefeitura de um município mineiro e segurança da Guarda Municipal e da Polícia Militar na porta da casa dele, tudo para que ele seja um divulgador turístico da cidade.

Na política, um telejornal mostrou esta semana a “farra das verbas indenizatórias” na Câmara Federal. A matéria mostrou os deputados pagando com o dinheiro público aluguéis para diretórios partidários e associações, viagens para outros estados, diárias para a família em hotel de luxo, além de outras despesas que são restituídas ao parlamentar.

No cotidiano, o cidadão comum também não se faz de rogado se o beneficiado for ele, do “jeitinho brasileiro” aos favores dos mais diversos com o dinheiro público. Essas pessoas, se tivessem no poder, certamente também participariam das patifarias e das farras que costumam ocorrer em todos os níveis.

Levar vantagem é o espírito diário de muitos brasileiros, até mesmo aqueles que criticam e reprovam a bandalheira praticada pelos políticos. Recentemente, o Brasil foi alvo de chacota na imprensa internacional por causa de um episódio que ocorreu no Rio Grande do Norte.

Lá, uma loja errou na etiqueta ao colocar o preço de TVs LCD de 55 polegadas por R$ 279,00. Em vez de usar o bom senso, muitos não só tentaram comprar o aparelho por esse valor como recorreram aos órgãos de defesa do consumidor. Uma esperteza disfarçada de “direito do consumidor”.

E quando se trata de bem público, muitos não medem consequências para se apropriar ou levar vantagem. É como se um bem que pertence a todos não fosse de ninguém, logo estaria disponível para ser vilipendiado, saqueado, surrupiado e apropriado indevidamente.

É desta forma que um cantor sertanejo se acha no direito de querer que uma prefeitura doe uma mansão para ele. Ou que um deputado não se envergonhe de usar o dinheiro público para fazer turismo com sua família, pagando diária de hotel de luxo à beira-mar. Ou que um servidor desvie a gasolina do órgão público onde ele trabalha.

Essa é apenas uma faceta da corrupção generalizada que estamos vendo no país, com a fratura exposta provocada pela Operação Lava Jato. O brasileiro precisa repensar seu comportamento para que tenha condições de cobrar mudanças na política. A mudança tem que começar não só de cima para baixo, como também de baixo para cima. *[email protected]: www.roraimadefato.com.br