Cotidiano

Pesquisa aponta que maioria dos migrantes é jovem e com estudos

Um em cada três venezuelanos não indígenas tem curso superior completo ou pós-graduação

O Ministério do Trabalho (MTb) divulgou ontem, 12, dados sobre o perfil sociodemográfico e laboral da imigração venezuelana no Brasil. De acordo com a pesquisa realizada pelo Conselho Nacional de Imigração (CNIg), com apoio do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), a maioria dos imigrantes venezuelanos não indígenas que estão entrando no Brasil por Roraima é composta de jovens, do sexo masculino e com bom nível de escolaridade.

Segundo o MTb, na primeira parte do estudo foram aplicadas 650 entrevistas entre não indígenas e, em seguida, realizado um estudo etnográfico, nas cidades de Boa Vista e Pacaraima, com famílias e líderes dos Warao.

Levando em consideração o perfil dos não indígenas, o levantamento mostra que 72% dos imigrantes venezuelanos são jovens entre 20 e 39 anos, sendo a maioria do sexo masculino (63%) e solteiros (54%). Praticamente um em cada três (32%) tem curso superior completo ou pós-graduação, enquanto três em cada quatro (78%) chegam com nível médio completo.

Conforme a pesquisa, o principal motivo para imigração foi a crise econômica (77%) e a maioria dos entrevistados (67%) entrou no Brasil em 2017. Eles vêm de 24 regiões venezuelanas, mas principalmente dos estados de Bolívar (26%) e Monagas (16%) e de Caracas (15%).

Mais da metade (58%) deles teve apoio de redes migratórias, como amigos e familiares que já residem no Brasil, mas em geral os venezuelanos em Roraima têm pouco conhecimento do português e muitos não estudam o idioma.

SERVIÇOS PÚBLICOS – Ao contrário do que é defendido pelo poder público em Roraima, a pesquisa revelou que pouco mais da metade dos venezuelanos acessa serviços públicos no Estado, principalmente na área da saúde (39%), mas quase a metade (48,4%) não utilizou nenhum serviço público.
Segundo o estudo, 82% do total pediu refúgio. Nesse caso, cerca de 1/3 dos migrantes tem apenas o protocolo de refúgio, 23% possuem carteira de trabalho, 29% têm CPF e 4% não possuem nenhum documento.

MORADIA E TRABALHO – A maioria vive em moradia alugada (71%), compartilhando o imóvel com outras pessoas e pagando aluguel de até R$ 300 (56%). A maioria dos venezuelanos já trabalha em alguma atividade remunerada (60%), com 28% formalmente empregados.

Os principais ramos de atividade são o comércio (37%), serviço de alimentação (21%) e construção civil (13%). Mais da metade dos entrevistados (54,2%) informou que envia dinheiro (de R$ 100 a R$ 500) para cônjuge e filhos na Venezuela, para ajudar no sustento desses familiares.

PERMANÊNCIA EM RORAIMA – Segundo a pesquisa, a maioria dos venezuelanos aceitaria mudar para outro estado, se tivesse apoio do governo federal (77%), mas o deslocamento no Brasil dependeria de oferta de trabalho (80%), ajuda econômica (11,2%) ou auxílio com moradia (5,2%). Já a proximidade da fronteira (38%) e o sentimento de integração em Boa Vista (37%) são os principais motivos para permanecer em Roraima.

Apenas 25% afirmaram que pretendem voltar à Venezuela. A maioria, por outro lado, disse que não pretende retornar tão cedo (47%) ou não sabe (27%). Entre os que pretendem voltar, a maioria estima um prazo superior a dois anos (47%), mas só se houver melhoria das condições econômicas (61%) do país vizinho.

Fome e ausência de serviços públicos trazem indígenas para o Brasil

Com relação ao perfil dos indígenas venezuelanos, a pesquisa mostrou que a presença dos Warao em Boa Vista começou em 2014, mas a escolha pelo Brasil intensificou-se a partir do ano passado. Os registros apontam a circulação e residência dos Warao em Pacaraima, Boa Vista, Manaus e mais recentemente em Belém.

A maioria deles permanece principalmente no Centro de Referência ao Imigrante (CRI) e nas ruas de Boa Vista e Pacaraima. No CRI, criado em novembro de 2016, são aproximadamente 500 Warao.

No caso deles, os principais argumentos para imigrar são a fome, ausência de serviços públicos relacionados à educação e saúde e o descaso do governo venezuelano com os indígenas. A maioria declarou ter deixado parte da família na Venezuela, cuidando dos bens materiais. Eles se disseram preocupados com os familiares que ficaram e querem trazê-los para o Brasil.

ACESSO AO SERVIÇO PÚBLICO – Segundo a pesquisa, os Warao que chegam ao CRI têm acesso aos serviços de educação e saúde, e os casos mais graves são encaminhados para o Hospital Infantil, Hospital Geral de Roraima ou Casa do Índio. Porém, os indígenas em situação de rua em Pacaraima e Boa Vista ainda não têm assistência.

TRABALHO – A maioria dos indígenas abrigados no CRI é do sexo masculino e não exerce atividades econômicas. Já as mulheres costumam continuar realizando o trabalho que faziam antes de migrar, como pedir doações em vias públicas, produzir artesanatos e costuras. Em Pacaraima, os homens Warao conseguem trabalho no descarregamento de carretas ou em fazendas e sítios na região – neste caso, com a companhia das mulheres.

PERMANÊNCIA EM RORAIMA – A pesquisa do CNIg constatou que os Warao pensam em retornar para a Venezuela quando a crise diminuir, mas também há os que querem trazer familiares para o Brasil. De um modo geral, o desejo é de continuar em Roraima, de preferência na cidade e com condições econômicas para o autossustento.